O multímetro é a ferramenta básica do técnico de manutenção elétrica/eletrônica.
A sua importância equivale a do estetoscópio para o médico, pois ambos permitem que o profissional possa facilmente avaliar o que é invisível aos olhos, no caso do técnico – tensão, resistência e etc, e, no caso do médico – batimentos cardíacos, ruídos do pulmão, etc.
Assim, o multímetro é uma ferramenta de uso pessoal que vai acompanhar o técnico ao longo de toda sua vida profissional e a sua competência e sobrevivência física dependerão em boa parte do funcionamento do instrumento.

Agora, estabelecida a real importância do multímetro, podemos detalhar os quesitos a serem avaliados para a seleção do instrumento correto.

1º – Segurança

Estamos falando de técnicos que trabalham em indústrias, na presença de grandes quantidades de energia elétrica, onde qualquer erro pode ser fatal.
Um instrumento projetado para, no mínimo, garantir o cumprimento das normas técnicas de segurança é o primeiro ponto a ser considerado, pois vai assegurar que o profissional e sua empresa estarão técnica e legalmente protegidos.
Recentemente no Brasil, a norma NR10 passou a regulamentar estes critérios, mas nos Estados Unidos e na Europa há muitos anos diversas normas foram publicadas. Você encontrará um resumo destas normas em nosso site no item Tutoriais “Segurança em medições elétricas“.

2º – Confiabilidade

Os profissionais precisam confiar no que o multímetro indica, não podem a cada teste duvidar das medidas ou ficarem inseguros em determinados tipos de medição.
Um bom instrumento, corretamente utilizado, deve medir e ponto! Não se discuti mais o assunto!
A vida útil de um multímetro de alta qualidade é ilimitada e poderá acompanhar o profissional até a sua aposentadoria. Existem fabricantes que oferecem garantia eterna para seus instrumentos!

3º – Certificação independente

A única prova indiscutível da adequação às normas técnicas é a certificação independente emitida por órgãos certificadores renomados como: UL(EUA), CSA(Canadá), VDE e Tüv(Alemanha) , etc.
Somente estas organizações podem atestar o efetivo cumprimento das normas, neste quesito as eventuais alegações dos fornecedores não possuem qualquer validade. Assim, instrumentos sem certificações deverão ser simplesmente descartados, mesmo que o fornecedor afirme ter seguido as normas no projeto.

4º – Precisão

A importância da precisão em medidas elétricas é óbvia, mas deve ser entendida no contexto correto, pois a estabilidade de calibração é mais importante do que a precisão inicial, já que podemos escolher o nível de precisão ao escolher o multímetro, mas só poderemos confiar nesta precisão se ela for estável por longos períodos de tempo.

5º – Robustez e Design

Os multímetros estão sujeitos a acidentes, podem sofrer quedas e certamente sofrerão sobrecargas devidos a erros de operação. Portanto, todas as funções de medição deverão estar protegidas até 600Vca, inclusive as de continuidade, resistência e teste de diodos, assim estarão praticamente imunes a este tipo de problema nas instalações industriais de até 480Vca.
Mecanicamente os multímetros precisam ser robustos, devem ser fabricados com resinas plásticas de alta resistência, projetados para resistir a quedas, adequadamente vedados, ergonomicamente otimizados ao uso portátil e possuírem displays de alta visibilidade.

6º – Funções de medição

Ao contrário do que leigos no assunto pensam, o número de funções de medição do multímetro é pouco relevante, pois funções em excesso dificultam a operação e induzem a erros de ligação que certamente danificarão instrumentos de baixa qualidade. Instrumentos que medem tudo são indesejáveis, o ideal são multímetros especializados que possuem as funções específicas ao tipo de atividade profissional: eletricista, eletrônico, instrumentista, técnico em refrigeração, etc.
Os pontos relevantes nas funções são:
    – Velocidade: taxa de atualização das medidas, aliada a existência de um barra gráfica no display
    – Autorange: troca automática das faixas de medição para obter a máxima resolução de medida
    – True RMS: capacidade de medir formas de onda distorcidas(não senoidais)
    – Mín/Máx/Pico: memórias para reter os valores mínimos e máximos ao longo da medição
    – AutoHold: um bip avisa que já memorizou a medida e que podemos retirar a ponta de prova

7º – Assistência técnica

O fornecedor deverá possuir condições para realizar a manutenção dos instrumentos com a mesma qualidade do processo de manufatura do fabricante, possuindo localmente peças de reposição originais, padrões de calibração e oficinas certificadas pelo fabricante.

8º – Acessórios

O trabalho de escolher um bom multímetro que atenda as características acima somente estará terminado se lembrarmos de comprar os acessórios complementares que facilitam o uso diário do instrumento e minimizam o uso incorreto e acidentes, tais como:
– Pontas de prova especializadas: garras e pinças para locais de difícil acesso
– Suporte magnético: liberam o uso das duas mãos
– Bolsas: para transporte e proteção dos instrumentos
 – Mini lanternas: permitem medições seguras em locais mal iluminados

Provavelmente este texto não esgota o assunto, mas certamente vai ajudar a evidenciar os pontos que realmente importam e que são independentes das alegações dos fabricantes.
Evidentemente o atendimento a todos estes quesitos vai encarecer a compra do instrumento, mas precisamos enfatizar que um multímetro é um instrumento de precisão especializado e não uma ferramenta banal que se compra em supermercados ou lojas de ferragens.

Finalmente, se você é um técnico que conserta geladeiras, talvez estejamos sendo muito rigorosos e sim, você poderá fazer um bom trabalho mesmo com instrumentos de qualidade inferior, mas se você atua em processos industriais ou instalações elétricas de grande porte o atendimento aos quesitos acima é vital para sua integridade física e profissional.